Projecto Cão do Idoso - Brasil
"...descubro como era gostoso tocar e ser tocado.
Agora somos tocados por auxiliares de enfermagem, sempre com pressa e preocupados com a nossa higiene. Os familiares, quando aparecem aos domingos, nos abraçam com tanta rapidez que não dá tempo nem de sentir o calor dos seus corpos. É um abraço na chegada e outro na saída. Dois rápidos contatos físicos. Como é forte o desejo de sentir o outro de verdade o outro pelo toque, mas como é difícil viver isso quando envelhecemos.
Acho que foi por isso que Deus criou os animais.
Onde eu moro agora, num asilo, existem alguns cães que vêm me visitar e que não se importam em ser tocados. Ao contrário. Eles vêm para perto de mim, se aconchegam no meu colo e pedem carinho. Acaricio seus pêlos delicadamente e com isso, devagarinho, vou sentindo um calor no meu coração. É uma hora em que parece que existo de verdade e que estou sendo importante para alguém. Esses peludinhos ficam realmente felizes em serem tocados pelas minhas mãos enrugadas e frias. Eu sinto que eles gostam, então o meu coração vai se aquecendo mais e mais, e o calor passa por todo o meu corpo e acho que para os cães também.
Às vezes algum cachorrinho mais alegrinho me dá uma lambida na mão. Sua língua tão quentinha está retribuindo o meu carinho. Acho que essas lambidas são os beijos mais sinceros que eu recebo de alguém nesta altura da minha vida...
Tento aproveitar ao máximo esse momento de contato, antes que alguém venha rapidamente limpar a minha mão com lenços umedecidos (frios e perfumados demais para o meu gosto). Se eu mesmo agora dei para babar, não sei por que limpam a baba do cachorro... A velhice tem dessas coisas, fazer o quê... Mas quem liga para isso? Somente as pessoas que (ainda) não babam. O cãozinho que está no meu colo nem se importa com a minha baba. O que ele quer são os MEUS afagos. E eu quero os dele também..."
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